abril 11, 2012

Comunicado!

Galera, peço desculpas pelo sumiço aqui e nos blogs amigos, mas é que além de estar dedicado a outras causas, não menos importantes, tenho passado por algumas crises pessoais. Logo as coisas se normalizam. 
Mas não abandonarei o Diário. Assim que conseguir conciliar, escreverei aqui de novo.

Abração para todos!

P.S. 2014: Organizei as postagens por ordem cronológica agora para facilitar a compreensão. Postei algumas que estavam inacabadas ou não havia incluído ainda na época. Segue a última parte da trilogia Investida, e a continuação de Vivendo como hétero: Pegando todas; e ainda uma nova trilogia que tinha escrito para outro blog: Amor calado I, II e III.

abril 04, 2012

As brumas do amor

Daí que revirando os arquivos do coração, me lembrei dele. Pode não ter sido a grande chama da minha vida, mas foi o mais próximo do significado de amor que senti. Acho que o conheci num site de relacionamento. Abel. Trocamos contatos, conversamos, nos vimos pela webcam, e parece que ambos estávamos satisfeitos com o que havíamos encontrado. Me lembro ainda daquele domingo de jogo do Brasil pela Copa da África, quando enfim nos conhecemos. Eu passara o dia inteiro editando o vídeo-documentário do trabalho de conclusão de curso com mais duas amigas no meu apartamento. Fizemos o almoço, lavamos a louça e acompanhamos animados, o desempenho da seleção. Decorridos os 90 minutos e seus acréscimos, não demorou muito e encerramos as atividades. Em pouco tempo, estava na internet e recebia o convite para conhecê-lo.
Controlando a ansiedade, tomei mais que depressa o caminho do chuveiro, escolhi uma roupa bacana que não ficasse nem muito alinhada, nem muito simples, e desci para esperá-lo. Ele morava relativamente próximo, e logo vi seus passos firmes em um tênis escuro se aproximar. Não gosto de ficar descrevendo os traços físicos das pessoas, parece que a estamos pondo à venda, mas do que me cabe relatar, posso dizer que ele tinha um sorriso meigo, um braço forte e uma mão sensível. Caminhamos um pouquinho e ele sugeriu que conversássemos no banco do ponto de ônibus. Ali? Não! Se não se importa, vamos subir, afinal, pra que serve morar sozinho?
Abrindo a minha casa, abria um pouco da minha vida também. Permitia àquele quase estranho, o acesso aos registros da minha história, na mobília, na organização paranóica do apartamento, no estilo da decoração, e claro, nas fotografias da família. Mas estava disposto a compartilhar. Contando que ele não considerasse aquilo, de minha parte, uma segunda intenção do nosso encontro. Claro que eu desejava algo mais daquela noite, mas poderíamos ir devagar. Ele sentou numa cadeira e eu sentei ao lado. Que nervoso! Olhava para seu rosto e só conseguia rir. Nem lembrei de ligar a tevê, mas quem iria se ligar em qualquer transmissão com um programa bem melhor do lado?
Na pressa, só tinha iogurte de graviola para oferecer. Mas aos poucos a conversa fluiu. Falamos de convivência e dos atritos na casa da avó dele, da sua mãe que mora no Rio, de sua relação com os primos mais novos, e claro, da vida oculta que a família ainda não sabia, mas que ele também não fazia questão de esconder. Pincelei alguns pontos da minha vida, revelando a minha completa inexperiência, e logo estávamos sem assunto. Mãos em leve fricção pela coxa. Até que encontrei coragem de tocar seus dedos. O que é um tocar de dedos? Nada. Mas ali significava cruzar limites, atravessar fronteiras, dar vida e forma à minha essência mais verdadeira sem culpas.
E tão logo senti os contornos da sua palma forte e leve sob meus dedos, senti sua outra mão a percorrer alguns fios do meu cabelo pela nuca. Não resisti e fui explorar sua região também. Como era diferente do pescoço feminino. Não havia a suavidade dos traços característicos das mulheres. Havia outro desenho, que me provocava jubilosas sensações pelo corpo. Foi ao me envolver nesse contato que quando percebi, estava mergulhado em seus lábios. E como era bom beijar! Não era o primeiro homem que eu beijava, mas com certeza o primeiro a quem me entregava de verdade. Nos levantamos e continuamos naquele estado. Braços e cabeças em constantes movimentos, quase numa dança íntima. E eu nunca tinha dançado antes com outro homem, nunca tinha abraçado assim. Em algum lugar dentro de mim, senti que minha alma dava pulinhos de alegria.
Foi quando ele me perguntou se poderia conhecer meu quarto. Como negar tal pedido? Deitado na cama, ele se aninhou em mim, acariciou meu rosto, afagou meu cabelo e me cobriu de beijos. Fiquei ali contornando seu rosto, as entradas do seu cabelo, suas orelhas, sentindo a textura da sua pele, examinando cada minúcia, enquanto ele, de olhos fechados, relaxava. Deus, como aquilo me deixava feliz! Queria gritar ao mundo a minha felicidade. Queria ligar para minha mãe apenas para informar a indescritível alegria que emanava do coração do seu filho naquele momento. O mundo poderia acabar desde que eu estivesse ali com ele. Como precisamos de pouco para ser feliz. De repente, seu celular toca. Um amigo o convidando para tomar um chopp.
- Não, outro dia. Tô bem melhor aqui.
Respeitando sempre minha inexperiência, se propôs a me mostrar algo. Me levou até a parede, me roçou, me amassou, me deixou sem ar e falou: “te apresento o sarro”. Caímos na gargalhada. Mas com a hora avançando, ele precisava ir embora. Não, sua presença me fazia tão bem. Não queria mais aquela velha solidão. Mas como conseguir isso? Antes tivesse parado aí, mas a sede foi mais forte. Minha mão deslizou até sua virilha e em poucos minutos estávamos despidos sobre a cama, buscando ver nossa fonte de mais intenso prazer jorrar. Banhados pelo orvalho, outro processo começou a se operar em mim. Aquele estado de completa satisfação foi abrindo a porta para as inconstâncias.
Bastou ele sair e a preocupação tomou conta de mim. Por que tínhamos que ter manchado aquela experiência única com a precipitação? Como me envolver assim de novo com um desconhecido? Não bastavam as últimas consequências? Olhei para o tarja preta na escrivaninha e tomei logo dois. Abel me ligou nos dias seguintes, mas meu estado de espírito era um poderoso repelente. Meu ritmo era outro, eu sabia. E precisei de três meses para entrar em contato de novo, até descobrir que o tempo dele também não era o mesmo. Perdi a chance de desenvolver uma produtiva relação. Mas quem domina o psicológico? Naqueles poucos minutos ao lado de Abel na cama, eu conheci o amor.